1989: a "queda" do Muro representou o fim do Stalinismo?

Berlinenses de Berlim Oriental logo após a abertura do Muro de Berlim, segundo Timothy Garton Ash: 

"Eles podiam ser pessoas comuns fazendo coisas banalíssimas, mas os berlinenses perceberam imediatamente as dimensões históricas do evento. ‘É claro que o verdadeiro vilão foi Hitler’, disse um deles. Um bilhete preso a um pedaço remanescente do Muro dizia: ‘Stálin morreu, a Europa vive’. O homem que contara 28 anos e 91 dias disse-me que havia ficado muito emocionado com um cartaz improvisado no qual se dizia: ‘Só hoje a guerra acabou de verdade.’ " (ASH, Timothy Garton. Nós, o povo: a revolução de 1989 em Varsóvia, Budapeste, Berlim e Praga. S.Paulo: Companhia das Letras, 1990).

Em 1989, em sequência, caem os regimes dos vários países ocupados pela União Soviética após o término da Segunda Guerra nos quais havia emergido o sistema político de partido único comunista, entranhado na estrutura estatal. Para alguns alemães, era o verdadeiro fim da Segunda Guerra (encerrada, formalmente, em 1945), que dividiu a Alemanha em duas. Para outros, era a verdadeira morte de Stálin, a principal autoridade política soviética entre 1928 e 1953: a morte física de Stalin, em 1953, com 73 anos, não teria sido suficiente para cessar a herança stalinista e seus efeitos."‘Stálin morreu, a Europa vive": a abertura do Muro de Berlim era interpretada como a morte simbólica do stalinismo. Mas stalinismo e comunismo eram sinônimos? E a perspectiva stalinista teria mesmo se extinguido em 1989? 

Stalin foi (e é) admirado e criticado. A herança stalinista ainda está em debate e é tanto criticada como defendida. Para comunistas de ontem e de hoje, o stalinismo é um tema inescapável: foi um "desvio" do verdadeiro comunismo? foi necessário para garantir a revolução e suas conquistas?

Giorgy Lukács, um importante filósofo e teórico marxista húngaro com trajetória no partido comunista da Hungria,  em 1963, dez anos após a morte de Stálin, no documento conhecido como "Carta sobre o stalinismo", deixou claro como Stalin e o stalinismo são temas complexos e difíceis para a tradição revolucionária de viés marxista.

Para Lukàcs, Stálin, após a morte de Lênin, "se revelou um estadista notável e que via longe", salvando a revolução soviética ao defender (contra Trotski) a teoria leninista do socialismo em um só país. Ainda para Lukàcs, ao firmar o pacto com Hitler, em 1939, "Stálin adotou uma decisão substancialmente justa, do ponto de vista tático", mas errou ao tomar essa posição como "critério de princípio da estratégia internacional do proletariado". E Lukàcs critica o método stalinista de transformar " que seria "objetivamente inevitável em uma situação revolucionária aguda" em práxis cotidiana, gerando, no regime soviético, um permanente estado de sítio.

Conheça aqui  uma versão em português (com problemas de tradução e digitação, mas...) do texto integral da "Carta sobre o stalinismo".


  

Comentários