Cambalache: decididamente, a Belle Époque acabou...

Em 1934, Enrique Santos Discépolo compôs o tango "Cambalache", gravado em 1935. Por sua visão bastante crítica e pessimista da história (em especial, do "século vinte", ao menos até meados dos anos 1930), e principalmente pelo cenário de corrupção e malandragem que desenha de sua época, o tango foi seguidamente censurado na Argentina. O tango inverte a perspectiva otimista da "belle époque", abalada de forma fatal com a Primeira Guerra Mundial.
A letra segue adiante, e apresenta a linguagem peculiar do "lunfardo".

Que el mundo fue y será una porquería, ya lo sé.
En el quinientos seis
y en el dos mil, también;
Que siempre ha habido chorros, maquiavelos y estafaos,
contentos y amargaos,
barones y dublés.
Pero que el siglo veinte es un despliegue 
de maldá insolente,
ya no hay quien lo niegue.
Vivimos revolcaos en un merengue
y en el mismo lodo
todos manoseaos.
Hoy resulta que es lo mismo
ser derecho que traidor,
ignorante, sabio, chorro
generoso o estafador...
¡Todo es igual!
¡Nada es mejor!
Lo mismo un burro que un gran profesor.
No hay aplazaos ni escalafón,
los ignorantes nos han igualao.
Si uno vive en la impostura
y otro roba en su ambición,
da lo mismo que sea cura,
colchonero, Rey de Bastos,
caradura o polizón.
¡Que falta de respeto, qué atropello a la razón! cualquiera es un señor,
cualquiera es un ladrón...
Mezclao con Stavisky va Don Bosco y La Mignon, Don Chicho y Napoleón,
Carnera y San Martín...
Igual que en la vidriera irrespetuosa
de los cambalaches
se ha mezclao la vida,
y herida por un sable sin remache
ves llorar la Biblia
junto al calefón.
Siglo veinte, cambalache
problemático y febril...
El que no llora no mama
y el que no afana es un gil.
¡Dale, no más...!
¡Dale, que va...!
¡Que allá en el Horno nos vamo´a encontrar...!
No pienses más; sentate a un lao,
que a nadie importa
si naciste honrao...
Es lo mismo el que labura 
noche y día como un buey,
que el que vive de los otros,
que el que mata, que el que cura,
o está fuera de la ley.





Ouça a versão do "tangueiro" Julio Sosa:
http://www.radio.uol.com.br/#/musica/julio-sosa/cambalache/169887


Ouça a versão cantada por Caetano Veloso, gravada em seu disco de 1969:
http://www.radio.uol.com.br/#/musica/caetano-veloso/cambalache/174887

Abaixo, a versão em português, feita por Raul Seixas, em 1987:


Que o mundo foi e será uma porcaria eu já sei
Em 506
e em 2000 também
Que sempre houve ladrões, maquiavélicos e safados
Contentes e frustrados,
valores, confusão
Mas que o século xx é uma praga
de maldade e lixo
Já não há quem negue
Vivemos atolados na lameira
E no mesmo lodo
todos manuseados
Hoje em dia dá no mesmo
ser direito que traidor
Ignorante, sábio, besta,
pretensioso, afanador
Tudo é igual,
nada é melhor
É o mesmo um burro que um bom professor
Sem diferir, é sim senhor
Tanto no norte ou como no sul
Se um vive na impostura
e outro afana em sua ambição
Dá no mesmo que seja padre,
carvoeiro, rei de paus
Cara dura ou senador
Que falta de respeito, que afronta pra razão
Qualquer um é senhor,
qualquer um é ladrão
Misturam-se Beethoven, Ringo Star e Napoleão
Pio IX e Dom João,
John Lennon e San Martin
Como igual na frente da vitrine
Esses bagunceiros
se misturam à vida
Feridos por um sabre já sem ponta
Vão chorar a bíblia
junto ao aquecedor
Século XX "cambalache",
problemático e febril
O que não chora não mama
Quem não rouba é um imbecil
Já não dá mais,
força que dá
Que lá no inferno nos vamos encontrar
Não penses mais, senta-te ao lado
Que a ninguém mais importa
se nasceste honrado
Se é o mesmo que trabalha
noite e dia como um boi
Se é o que vive na fartura,
se é o que mata, se é o que cura
Ou mesmo fora-da-lei

Comentários